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‘América Latina é onde faz sentido aplicar blockchain’: Ripio destaca potencial do mercado de criptomoedas da região

Durante o Blockchain Rio, Facundo Rodriguez e Santiago Juarros comentaram sobre o potencial latino-americano no contexto cripto global e os planos da Ripio para a região

Em sua prévia do relatório sobre adoção de criptomoedas no mundo em 2023, a Chainalysis apontou que três países da América Latina estão entre os vinte que mais utilizam moedas digitais. São eles: Brasil, México e Argentina.

Durante o Blockchain Rio, evento realizado entre os dias 12 e 14 de setembro no Rio de Janeiro, o Cointelegraph Brasil conversou com Facundo Rodriguez e Santiago Juarros, representantes da Ripio, sobre como a América Latina tem se posicionado no mercado global de criptomoedas.

Cointelegraph Brasil (CTBR) – A Ripio tem participado do desenvolvimento de soluções focadas na América Latina, como a stablecoin Criptodólar UXD e a rede LaChain. Como vocês avaliam a força da região no contexto global?

Santiago Juarros, Head de Marketing da Ripio – A América Latina é um terreno muito fértil para empresas que têm interesse em começar a desenvolver produtos e serviços baseados em blockchain.

Facundo Rodriguez, Head de Web3 da Ripio – O que eu penso é que o mercado latino-americano é o contexto certo para o surgimento de novos projetos. Por quê? Porque nós temos muitas dificuldades, que envolvem economia, rastreabilidade de produtos, agropecuária e exportação de matéria-prima. Esses são casos de uso que se vêem fortalecidos pela blockchain, por isso acredito que a América Latina é o contexto certo para essa tecnologia.

É por isso também que todos os grandes projetos da Web3 ao redor do mundo têm alguma pessoa da América Latina, seja em produto, em desenvolvimento ou em outra área. Aqui é onde se aplica, e há sentido em aplicar, a tecnologia blockchain.

CTBR – A LaChain é uma blockchain que se intitula focada nos latino-americanos, e conta com importantes empresas da região como membros. O que motivou essa união de empresas para criar uma estrutura focada na América Latina?

Rodriguez – Foi uma iniciativa que partiu da Ripio, pois começamos a observar que as blockchains da Web3 passam por um ‘sharding natural’. O Ethereum está trabalhando em sharding para escalar, mas já existe essa fragmentação através de outras blockchains compatíveis com EVM, há uma demanda por elas. Alguns exemplos são a Binance Chain, a Polygon e soluções de segunda camada. Existe essa divisão natural.

Essa divisão é importante porque cria espaços menores, com uma performance mais alta. O que acontece quando algo está bombando em uma blockchain? O tráfego cresce e as taxas aumentam. Mas se algo estiver bombando no Ethereum, os usuários da América Latina que usam a LaChain não serão afetados. Então, vamos ter um espaço dedicado, com casos de uso dedicados, e essa é a ideia principal da LaChain.

Juarros – Outra questão, que foi bastante discutida no Ethereum Argentina [evento realizado em agosto em Buenos Aires], é o fato dos projetos em blockchain serem construídos em outros lugares do mundo, como Europa e Estados Unidos, e depois vêm para o Brasil. E aí entramos na questão das taxas, né? Nesses mercados, eles podem pagar um dólar de taxa. Mas aqui, esse dólar tem um peso muito maior.

Então, esse é outro motivo que está fazendo com que a gente impulsione projetos baseados na América Latina, que vão atender nossas necessidades. Para que aplicações e redes baratas surjam, mas adequadas ao nosso contexto.

CTBR – Os países da América Latina exibem diferentes terrenos para o mercado de criptomoedas. Como é, do ponto de vista empresarial, expandir os negócios é uma região com tanta diversidade?

Juarros – Quando vamos adentrar um país, nós já sabemos o perfil do público investidor da região. Mas sempre há um trabalho forte de conscientização e educação sobre cripto, voltando a esse público que já investe, mas quer começar a explorar alternativas com criptomoedas.

O que fazemos é esclarecer que esses usuários estão investindo em tecnologia, mas não necessariamente em empresas. Por isso, quando se trata de conscientizar o varejo, é sempre um trabalho forte de educação: explicar o que são criptomoedas e os benefícios. Mas nós sempre começamos explicando a importância da segurança. Como esse é ainda um mercado novo e fértil, precisamos tomar esse cuidado de explicar os riscos, como golpes, que existem. Quando desembarcamos em um país, começamos pela segurança.

A segunda parte é estudar a necessidade do mercado local. Por exemplo, aqui no Brasil, nós notamos um público muito avançado quando o assunto é trade, os investidores são muito familiarizados com as plataformas. Mas aí começamos a ver as dificuldades dos usuários, e o primeiro produto de pagamentos que criamos foi lançado no Brasil para atender essas necessidades, que é o nosso cartão. 

Então é assim: além de conscientizar e ajudar a conhecer, nós estudamos as dores do mercado local. 

CTBR – No Brasil, grandes instituições financeiras começaram a oferecer compra e venda de criptomoedas, e têm tido um resultado satisfatório. Falando sobre modelos de negócios, quais produtos vocês pretendem oferecer na América Latina para se manterem relevantes?

Juarros – A filosofia da Ripio é acelerar a adoção de criptomoedas na América Latina, mas você precisa de ferramentas para isso. Como temos dez anos no mercado, que nos agregou muita estrutura e conhecimento técnico, acho que esse é nosso ativo valioso: oferecer nossa experiência para parceiros que querem trabalhar com criptomoedas. 

Por isso, agora também oferecemos nosso know-how e nossa tecnologia para essas empresas que querem fornecer produtos com cripto. Um exemplo é nossa parceria com o Mercado Pago, no Chile, onde eles usam nossa estrutura para oferecer criptomoedas ao mercado chileno, e nós nem temos nosso produto principal lançado lá. Mesmo assim, nossa estrutura já chegou ao país através dessa parceria.

Outro exemplo é aqui no Brasil. Na nossa parceria com o Mercado Livre, fizemos o processo de tokenização da Mercado Coin. Também temos uma parceria com a Finzi, na Colômbia, onde eles usam nossa tecnologia para oferecer uma carteira de criptoativos. É isso que temos feito: firmar parcerias para fornecer nossa tecnologia e nossa experiência no mercado cripto.

Mas é importante entender que só isso não adianta. O modelo tem que estar acompanhado de inovação tecnológica. Não adianta, então, deixar só a máquina e os ferros. A infraestrutura também inclui inovar, por isso estamos tão focados na LaChain. Ela é a base da nossa infraestrutura, para que possamos oferecer produtos ainda melhores para nossos parceiros.

CTBR – Falando sobre a LaChain, vocês vão manter a rede apenas para transações, ou pretendem construir aplicações sobre ela?

Rodriguez – Nós vamos colocar dApps [aplicações descentralizadas] sobre a rede. Nossa bridge está nos estágios finais da auditoria, temos explorador de blocos e temos estrutura para swap. Tudo isso é para criarmos infraestrutura onde as empresas da América Latina poderão criar projetos voltados a usuários finais. 

Por exemplo, estamos criando um projeto chamado Cube, que é para movimentar fundos entre essas empresas. Então, temos stablecoins baseadas em moedas locais, como nARS [stablecoin baseada na moeda argentina], nPEN [stablecoin baseada na moeda peruana], nBRL [stablecoin baseada no real] e nCOP [stablecoin baseada na moeda colombiana], criadas pela Num Finance. 

Desta forma, essas empresas não precisam utilizar os bancos. No contexto argentino, por exemplo, as estruturas bancárias não funcionam às vezes, e atrapalham os negócios de todo mundo. Então, se é possível criar uma conexão direta, sem um intermediário, é melhor para todo mundo, e por isso estamos trabalhando nessa aplicação. Temos casos de uso para usuário final, e casos de uso para empresas. 

Como falamos no começo: a América Latina tem muitas pessoas, muitas startups, muitos meninos começando com muitas ideias. E queremos dar uma infraestrutura para eles, queremos impulsioná-los. 

Além disso, nós queremos dar essa proximidade. Se você me perguntar “por que construir na LaChain?”, vou responder que é porque estou aqui, falando com você. É um contato muito mais próximo com quem está construindo na América Latina. Em outras blockchains, você pode falar com alguém no mesmo idioma, e repassar suas dores e sugestões? Talvez, mas não é a mesma coisa que o contato próximo que oferecemos.

Um exemplo desse contato são nossos desenhos de incentivos. Agora, em outubro, vai rolar um teste que estamos fazendo de aceleradores. Vamos escolher uns projetos locais, que tenham foco na América Latina, para serem acelerado. A ideia é, depois de outubro, replicar isso no Brasil: olhar projetos, selecionar alguns e acelerá-los.

CTBR – Vocês pretendem lançar mais produtos entre o último trimestre deste ano e o primeiro trimestre de 2024? Há algum lançamento que vocês possam adiantar?

Juarros – Ainda no final deste ano, vamos evoluir a parte mais corporativa, como desenvolver ainda mais nossa parte B2B, e aí a gente espera seguir crescendo com parcerias. E isso inclui mais parcerias com empresas cripto, por exemplo, recentemente fechamos uma parceria com a Algorand para conhecer outros projetos e dar nosso conhecimento também.

E também para essa segunda metade do ano, a gente espera um anúncio muito grande na Europa. Não consigo falar muito, mas fiquem aí de olho. Na semana que vem, vamos ter mais novidades sobre o que a Ripio tem para a Europa. O Seba [Sebastian Serrano, CEO da Ripio] já adiantou algo no Twitter, mas fiquem ligados. 

Além disso, vamos seguir trabalhando muito próximos com Stellar e Circle, que são dois de nossos principais parceiros para o desenvolvimento no Brasil e na Argentina.

Para o ano que vem, e isso é algo que já adiantamos em junho, nós queremos fazer uma fusão de todas as nossas aplicações, que incluem uma plataforma de trading e nossa carteira focada em Web3, para ter tudo em uma plataforma só. E aí, vamos inserir mais casos de uso com muito foco em stablecoins.

Rodriguez – Estamos trabalhando nessa integração dos nossos produtos para que fique tudo mais fácil. Sabemos que nossos usuários têm muitas opções, são muitos produtos que temos criado, mas ainda está tudo separado. Por isso, queremos fazer uma integração dessas aplicações, para ficar mais fácil e agradável para o usuário.

Na LaChain, estamos terminando a vistoria da nossa bridge, porque esse é sempre o ponto mais fraco de toda blockchain nova. Por isso, estamos dedicando muito tempo no processo de segurança. Também começaremos a fazer airdrops de LAC [token nativo da LaChain] para desenvolvedores começarem a testar suas aplicações na LaChain. 

E depois, a ideia é lançar nosso swap, para permitir a negociação de LAC para outro ativo, e também vamos acrescentar um ‘envelopador’ de LAC para outras redes, para permitir seu uso em staking e exchanges descentralizadas em outras redes. 

Por fim, queremos migrar nosso modelo de governança para uma DAO, mudando nosso modelo de consenso para prova de participação. Mas esses passos dependerão da quantidade de transações e do volume, para garantirmos a segurança da empresa.

Juarros – Para fechar, quero fazer um chamado para a comunidade do Brasil, e também de toda a América Latina: nossa blockchain está começando, e toda a comunidade terá a possibilidade de ver o nascimento de um ecossistema novo. A Ripio é só o facilitador, o projeto da LaChain é para todos, e provamos isso participando do hackathon DIGIFI [organizado pela Ethereum Brasil e pelo Blockchain Rio] com uma trilha dedicada a projetos da LaChain.

O chamado para a comunidade de desenvolvedores é justamente participar da criação de uma blockchain nova, com foco na América Latina, e que vai atender as necessidades que temos como latinos. 

Fonte: https://br.cointelegraph.com/news/latin-america-is-where-it-makes-sense-to-apply-blockchain-ripio-talks-about-latam-potential-in-crypto

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